domingo, 8 de janeiro de 2012

Saiu no JC

Excelente a matéria publicada no JC de 07/01/2012, assinada pelo jornalista Juracy Andrade, aldeense do Bosque Águas de Aldeia. Com muita lucidez, Juracy expõe a situação dos moradores desta Região ante a ameaça do presídio de Araçoiaba, que, com certeza, cairá aqui como uma bomba devastadora, levando o pouco de sossego que ainda temos nestas plagas. Transcrevemos, na íntegra:


Jornalista Juracy Andrade
"MAIS FAZ DE CONTA - Seria redundância dizer que entramos em 2012 com muitos problemas a resolver, muitos deles insolúveis tanto foi adiada a sua solução. Desejo, porém, destacar aqui um que está tirando o sono da população que habita a Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia-Beberibe e adjacências. O governo do Estado, sem nenhuma consulta à população (o que não é de admirar), decidiu construir um presídio em Araçoiaba. Com isso, toda a PE-27, mais conhecida como Estrada de Aldeia, vai servir de rota de fuga para presos fugitivos; suas matas, condomínios e povoados vão servir de refúgio a criminosos. Contra essa indesejável perspectiva movimentam-se cidadãos, associações e o Fórum Socioambiental de Aldeia (forumaldeia@yahoo.com.br). Espera-se que essa mobilização ainda possa conter o infeliz projeto.
Que é preciso que haja presídios ninguém discute, enquanto o homem for dotado de livre arbítrio para o bem e para o mal. Mas vamos, primeiro, dar uma olhadinha rápida em como funcionam os presídios no Brasil e na legislação penal que nos rege. Ressocialização permanece como um hipócrita faz de conta. Além disso, é rotineiro que presos comandem presídios; tenham as chaves de celas e outras dependências; que possuam telefones celulares, com os quais comandam seus bandos lá fora; promovam festas regadas a bebidas e acepipes; tenham acesso a prostitutas (inclusive menores). Fugas não são raras nem difíceis. Seja devido a uma frouxa e incompetente segurança, seja mediante suborno de quem deveria custodiá-los. Presídios deveriam ser localizados em lugares praticamente inacessíveis, sem facilidade de esconderijo e sobrevivência. Antes de impor a proximidade de um presídio a quem mora numa APA, modifique-se radicalmente essa realidade vigente em nossos presídios e custódias provisórias.
Outra coisa a ser examinada pelos poderes públicos, antes de tal imposição, é a revisão de uma legislação hipócrita e leviana. Em países mais desenvolvidos, um garoto de 14, 15 anos que fere alguém, mata, que rouba ou comete outro crime é preso, julgado e paga sua culpa. Aqui ele é recolhido a uma Febem da vida, onde faz pós-gradução em criminalidade e volta ao convívio social para agir pior. Um adulto criminoso logo ganha prisão aberta, direito a passar o Natal com a família. Desaparece e volta a delinquir.
Que sejam eficientes órgãos como o Ibana, a CPRH. Se esses órgãos não conseguem conter o desmatamento aloprado em áreas como a tão próxima APA de Aldeia, como irão resolver devastação pior, como a que assola a Amazônia? A APA Aldeia-Beberie está precisando muito mais de proteção que de presídio. O canto dos passarinhos está sendo rapidamente substituído ali pelo ruído de motosserras. A mata continua sendo sistematicamente desmontada.
Vamos melhorar a legislação, os presídios que existem, e só construir novos em locais ermos e inacessíveis. Vamos proteger aquíferos, mananciais, matas, controlar a natalidade, deixar espaços verdes entre os aglomerados humanos."
(Juracy Andrade - ju.andrade2010@ig.com.br)

Caríssimo Juracy, continuemos nossa luta. Reportagens como esta precisam circular, para nos conscientizarmos dos absurdos que o poder público tenta nos impingir.
Acreditamos que uma boa parte de brasileiros leu a reportagem da revista Veja falando sobre o bandido Fernandinho Beira-Mar. A chamada era esta: "Fernandinho Beira-Mar manda matar, vende drogas e fatura 1,5 milhão de reais por mês mesmo de dentro de um presídio federal de 'segurança máxima'". É preciso dizer mais alguma coisa diante de um descalabro desses? Esse modelo precisa acabar! E não queremos esse modelo de "presídio de segurança máxima" aqui na nossa vizinhança. 

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