TUDO AZUL E GÉLIDO
Visão de Fernando Wucherpfennig
Na Eco 92 tivemos a honra de divulgar O CEAV no espaço “cúpula dos povos”, no aterro Flamengo.
Agora, vinte anos depois,foi possível participar intensivamente nas inúmeras
palestras, debates, protestos, passeatas etc , etc.
O Rio de Janeiro estava incrível, parecia um cenário de uma
“Olimpíada Ambiental”! O tema meio ambiente estava por todo canto da cidade: nas
ruas, nos bares, cinemas, teatros, escolas, campos de futebol, praças, praias,
porto, rodas de debates, morros, jardim
botânico... ninguém escapou. Envolvimento total. Paraíso dos ambientalistas.
Festa plena.Os indicadores de violência despencaram, as aulas foram suspensas e
a juventude pôde comparecer maciçamente. Céu azul e sol macio de inverno.
Avenidas beira mar foram interditadas. Flui a mobilidade na
capital da bicicleta. Protestos socioambientais tomaram conta da avenida Rio
Branco. Mais de 50.000 pessoas pararam o centro do Rio na tarde do dia 20 de
junho.Todos unidos pela humanidade, um espetáculo emocionante.
Diferente foi no espaço oficial, no Rio Centro, 20 km ao sul,
difícil acesso, controles mais sofisticados que em aeroportos. Formalismo,
rigidez, todos de preto, igual aos carros oficiais. Nos estandes dos países
havia de tudo. No espaço de Pernambuco, só folhetos amontoados. Enquanto os
vizinhos de Minas Gerais recebiam com pão de queijo, Espírito Santo com deliciosos
cafés orgânicos, os fluminenses anfitriões deram um show total, bem no estilo do
Carlos Minc, secretário do meio ambiente, mas que realmente tinham o que
mostrar, pois começaram a fazer a lição de casa!
Mas a “Cidade Maravilhosa, agora patrimônio mundial da
paisagem (título da Unesco), a primeira do planeta a receber esse título, estava
super bem organizada. As calçadas mais largas que as ruas (até Berlim teria
inveja), tudo arborizado com orquídeas de todo tipo, praças com feiras
incríveis e com bons nichos para os orgânicos, montanhas altas com Mata
Atlântica totalmente regenerada,contrastando com belas e límpidas praias,
arquipélagos protegidos. Não esquecendo que foi Burle Marx seu maior paisagista,
e que foi expulso do Recife no fim dos anos trinta por suspeita de ser
comunista! Gostava de flores vermelhas.
Nas grandes tendas palestras, debates de todo tipo. Na tenda
azul o assunto eram os oceanos.O Brasil só protege 1% da nossa costa, um
escândalo. Não cumpre minimamente os tratados internacionais dos quais é
signatário.O veleiro francês Tara (expedição de três anos ao redor do mundo,
estudando o plâncton) revelou que nas costas pernambucanas o mesmo quase que
desapareceu.O pessoal do Greenpeace flagrou a Petrobrás perfurando nas águas do
PN de Abrolhos sem licença ambiental. Outro escândalo. Em outra tenda, Marina
Silva leva mais de 2.000 pessoas ao delírio. O Pessoal do Haiti protestando
contra a presença do Exército Brasileiro: pedem professores, médicos,
sanitaristas e não soldados!!! Presença maciça de índios de várias etnias
lutando pelos seus direitos e denunciando abusos e omissões dos governos. No
teatro Nelson Rodrigues, apresentação da Carta da Terra em pomposo estilo, com
fechamento especial de Leonardo Boff. Pescadores de reservas extrativistas da
Bahia resumiram assim as ações do MMA: num dia dizem que estamos fazendo tudo
conforme a lei, no outro dizem que está tudo errado, e no terceiro dia dizem
que estamos presos!
Em suplementos especiais a mídia divulgava diariamente as
grandes entrevistas; Renato Maluf, professor UFRRJ: “O MODELO AGRÍCOLA ATUAL
NÃO SE SUSTENTA’’; Vandana Shiva, ambientalista e física indiana: “O PODER ESTÁ
NAS REDES SOCIAIS”; Yolanda Kakabadse, equatoriana e diretora do WWF: “TEXTO
FRACO, SEM OSSOS E SEM ALMA”; Boaventura de Souza Santos, sociólogo: "BENS DA
NATUREZA SÃO BENS COMUNS, NÃO DE MERCADO”; Michael Bloomberg, prefeito de Nova
York: "AS CIDADES TÊM AGIDO; OS GOVERNOS FEDERAIS, NÃO”; Eduardo Viola, especialista
em negociações climáticas: “O BRASIL PODIA TER SIDO MAIS OUSADO”; Rajendra
Pachauri, indiano e ganhador do Nobel da Paz: “HÁ UM GRANDE NÍVEL DE ALERTA NO
MUNDO”; Edgar Morin, sociólogo francês: “PAÍSES PRECISAM SER MAIS SOLIDÁRIOS”; “AS
NAÇÕES PARECEM QUE ESTÃO ISOLADAS UMAS DAS OUTRAS E NÃO CONSEGUEM SE ALIAR PARA ENFRENTAR QUESTÕES
GLOBAIS”; "OS POBRES NÃO TEM VOZ, FICAM ISOLADOS NA HORA DE DECIDIR SEUS
DESTINOS”; "A PRÁTICA DA DEMOCRACIA DIRETA DEVE FAZER PARTE DA EDUCAÇÃO DO
CIDADÃO. SÓ ASSIM APRENDEMOS , AOS POUCOS, A TOMAR A PALAVRA”.
Levaremos muitos anos para assimilar tudo o que foi
apresentado, discutido nesse encontro global!
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