Prisioneiros do sentimento de insegurança - População de Aldeia se mobiliza para evitar a vizinhança de um presídio em Araçoiaba - Por Lorena Tabosa
Grades de ferro onde havia
cerca viva e inquietação tomando o lugar do outrora “refúgio bucólico”. Essas
são algumas das ressalvas que a população circunvizinha a Araçoiaba tem em
relação à construção de um presídio no território do município. O anúncio foi
feito pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Ressocialização (Seres),
em outubro do ano passado. Desde então, os moradores da região estão se
mobilizando contra a causa. Foi criado, inclusive, o movimento “Presídio
Araçoiaba: diga não”, que já recolheu cerca de 9 mil assinaturas contra o
projeto.
De acordo com o secretário
da Seres, coronel Romero Ribeiro, a construção da unidade prisional é uma necessidade.
“Precisamos resolver a questão da superpopulação e este foi o local mais
apropriado que encontramos na Região Metropolitana”, disse. Ribeiro esclarece
que o terreno já foi desapropriado e que os preparativos da construção do
prédio começaram. O presídio deverá abrigar parte do contingente que está hoje
em Itamaracá, na mesma região, e desafogar o Complexo Aníbal Bruno, na Zona
Oeste do Recife. A unidade prisional terá capacidade para 2,2 mil detentos. A
população de Araiçoiaba, município mais novo de Pernambuco, criado em 1995, é
de cerca de 22 mil pessoas. Fazendo um comparativo, isso significaria dizer que
10% dos habitantes do município estariam dentro do presídio.
Para o professor Manoel
Ferreira, presidente do Fórum Socioambiental de Aldeia, organização que iniciou
a luta contra o projeto, o histórico dos presídios no país, inevitavelmente,
nos leva a sensações de insegurança e inquietação. “A população deveria ter
sido ouvida, já que se trata de uma instalação com impacto ambiental e social
negativos”, aponta. O Fórum, em parceria com a Associação Comunitária de
Araçoiaba, realizou pesquisas na área destinada à construção e constatou que se
trata de uma reserva de mananciais. Além disso, segundo o projeto APA
AldeiaBeberibe, que estabelece áreas de preservação ambiental e está em fase de
implantação, Aldeia corresponde ao maior segmento de Mata Atlântica
remanescente ao norte do Rio São Francisco e abrange partes de oito municípios,
sendo Araçoiaba um deles.
A mesma pesquisa revelou
que a unidade prisional ficará a 3,6 quilômetros do centro da cidade. De acordo
com a Lei 13.315/ 2007, é proibido construir presídios e penitenciárias em
áreas urbanas e de interesse turístico para o estado de Pernambuco. Com a
proximidade com Aldeia e São Lourenço da Mata, que abrigará a Cidade da Copa,
Araçoiaba se consolida como rota turística. Mas o medo dos moradores é de que o
município se estabeleça também como rota de fuga dos detentos. “Fico assustada
ao pensar que poderemos precisar lidar com rebeliões e fugas de presos. Hoje, dormimos
com as portas abertas. Mas amanhã, com esse presídio, viveremos atrás de
cadeados. De algum modo, também seremos detentos”, desabafa a psicóloga Altenora
Barbosa, moradora de Aldeia.
AÇÃO CIVIL
No dia 12 de abril,
representantes das Associações Comunitárias de Araçoiaba e dos Condomínios de Aldeia
deram entrada em uma ação civil pública no Fórum Dom Pedro II, em Igarassu. A
juíza da 1ª Vara Cível da Comarca de Igarassu, Maria do Rosário Monteiro
Pimentel de Souza, será responsável por julgar a ação, que traz, entre os
argumentos, a defesa do meio ambiente, os impactos sociais e a Lei 13.315/
2007.
Na mesma edição, a matéria com o título "O filão eleitoral da Região Metropolitana", assinada por Sérgio Montenegro
Filho, desvela a situação do município de Goiana, que emerge agora para um novo patamar de desenvolvimento, e faz um paralelo com Araçoiaba:
Outras cidades da área
metropolitana norte, porém, estão a léguas da perspectiva confortável vivida
por Goiana. Araçoiaba é uma delas. Antigo distrito pertencente a Igarassu, ela
foi emancipada à condição de município em 1995, por mera conveniência política
de deputados daquela região. De lá para cá, jamais conseguiu caminhar com as
próprias pernas. Afundada em dívidas e suspeitas de corrupção, a cidade ainda
enfrenta a dificuldade de ter grande parte do seu território em uma área de
preservação ambiental, afastando qualquer projeto de grande porte que pudesse
se instalar por ali.
Gostaríamos de elogiar as duas excelentes matérias, mas não poderíamos deixar de registrar a frase: "...a cidade ainda enfrenta a dificuldade de ter grande parte do seu território em uma área de preservação ambiental..." Sabemos que o repórter estava se referindo às dificuldades frente ao nosso progresso sócio-econômico. Mas, em verdade, o fato de um município ser possuidor de uma área de preservação ambiental nunca poderia ser considerado como "dificuldade" e sim como um imenso privilégio, num planeta onde os recursos naturais estão escasseando e desaparecendo a uma velocidade espantosa. Valendo também salientar a crucial importância, para o Recife, das reservas hídricas de Araçoiaba.
Gostaríamos de elogiar as duas excelentes matérias, mas não poderíamos deixar de registrar a frase: "...a cidade ainda enfrenta a dificuldade de ter grande parte do seu território em uma área de preservação ambiental..." Sabemos que o repórter estava se referindo às dificuldades frente ao nosso progresso sócio-econômico. Mas, em verdade, o fato de um município ser possuidor de uma área de preservação ambiental nunca poderia ser considerado como "dificuldade" e sim como um imenso privilégio, num planeta onde os recursos naturais estão escasseando e desaparecendo a uma velocidade espantosa. Valendo também salientar a crucial importância, para o Recife, das reservas hídricas de Araçoiaba.
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