27 de abril de
2012
Marina Silva |
Folha de S. Paulo | MARINA SILVA | BR
O novo Código
Florestal aprovado pela Câmara é tudo, menos "florestal". Virou uma
regulamentação de atividades econômicas no campo, nas cidades e nos litorais,
de forma a dourar a pílula e apaziguar consciências. Está longe de representar
equilíbrio, sustentabilidade, respeito às pessoas e aos bens do país.
O que saiu do
Senado, tido como de "consenso", já ignorava o parecer das
autoridades científicas e de especialistas de diversas áreas. Em nome dele,
lideranças de quase todos os partidos classificaram como "radicais"
as vozes críticas que defendiam as salvaguardas da legislação ambiental,
capazes de garantir a qualidade de vida das gerações presentes e futuras.
As mesmas
lideranças, porém, contemplaram os interesses verbalizados pelas outras vozes
mais radicais de um Brasil atrasado, que se recusam a entender que
desenvolvimento econômico e preservação ambiental são indissociáveis.
Tais escolhas
colocam a presidente Dilma diante da tarefa de fazer o que sua base de apoio não
fez. Veremos debates nos próximos dias, principalmente sobre o que deve ser
vetado. A discussão será algo do tipo: o quão menos ruim o projeto pode ser
para não ter um caráter imediatamente fatal.
Como foi
aprovado no Congresso, já é praticamente unânime que ele trará implicações nas
taxas de desmatamento. Discutir o veto parcial é como avaliar se desejamos
colapsar os nossos ecossistemas (e, com isso, inviabilizar nossa agricultura)
em 10 ou 20 anos.
O veto deve
anistiar os desmatadores ou desobrigar a recomposição de matas ciliares? Deve
ser pelo fim dos mangues ou pela redução de reserva legal? Fragilizar as
veredas ou as nascentes e mananciais?
Não é isso que
deveríamos discutir. Temos todas as condições de liderar o processo de
transição para o desenvolvimento sustentável. O Brasil pode ser para o século
21 o que os Estados Unidos foram para o mundo no século 20. Mas são necessárias
visão antecipatória e determinação de perseguir nosso destino de grande
potência socioambiental. Não é fácil fazer a melhor escolha, porém é na pressão
dos grandes dilemas que se forja a têmpera dos que estão afiados a talhar os
avanços da história.
A presidente
Dilma terá que decidir qual modelo de desenvolvimento quer para o país. Não dá
para ter na mesma base de apoio o sonido da motosserra e o canto do uirapuru.
Agora, resta a ela usar seu poder de veto ou compactuar com o que está posto.
Chegou a hora da verdade. Veta, Dilma. Veta tudo, não pela metade.
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