Continuamos neste post o relato sobre a participação do Fórum de Aldeia no evento Ação Integrada da Cidadania em Aldeia, promovido sábado passado (dia 23) pela SEART em parceria com outras entidades, nas instalações da Faculdade de Odondologia de Pernambuco (FOP), em Aldeia.
A palestra sobre as TERMOELÉTRICAS em ALDEIA teve como expositores o engenheiro Herbert Tejo, representando o Fórum Socioambiental de Aldeia, e o professor da UFPE, Dr. Heitor Scalambrini. Estiveram presentes membros do Fórum e da comunidade e como debatedora, representando a CPRH, a Dra. Joice Brito.
A palestra sobre as TERMOELÉTRICAS em ALDEIA teve como expositores o engenheiro Herbert Tejo, representando o Fórum Socioambiental de Aldeia, e o professor da UFPE, Dr. Heitor Scalambrini. Estiveram presentes membros do Fórum e da comunidade e como debatedora, representando a CPRH, a Dra. Joice Brito.
Herbert focou sua exposição em três eixos:
1. O que é o complexo Termoelétrico da APA Aldeia
Beberibe. Quantas e quais são as geradoras. Onde se localizam.
2. Poluição Sonora e Emissões – Nível de ruído
insuportável e suas consequências.
3. Irregularidades no Licenciamento das Termelétricas em
Pernambuco (EIA x RAS).
Em Aldeia, em pleno coração da APA (Área de Proteção
Ambiental) Aldeia-Beberibe, numa área reconhecida através da Lei 9860 como
de Proteção de Mananciais, foram construídas duas Termelétricas, pertencentes ao
Grupo EPESA, com potência de 236 MW, queimando 1.500.000 de litros de
óleo diesel por dia através de 536 motores. A potência gerada, o volume de óleo
queimado e a ausência de chaminés elevadas, tudo isto associado deve produzir elevados
níveis de emissões cujo controle desconhecemos quem faz, ou sequer se é feito.
O complexo foi instalado sem qualquer controle de ruídos
e, portanto, sem atender minimamente às normas técnicas que regem os níveis de
produção de ruídos. O barulho das Termelétricas PAU FERRO I e
TERMOMANAUS chegam a alcançar distâncias superiores a 10 km, causando
transtorno e mal estar na população que vive nesse raio.
Em reunião com membros do Fórum em janeiro de 2013, a
diretoria da EPESA reconheceu o problema e anunciou ter contratado empresa
especializada para resolver a irregularidade:
• A EPESA, através de seus
diretores, reconhece problemas técnicos e tecnológicos em seu empreendimento;
• A EPESA se comprometeu em empenhar-se na solução do problema da poluição sonora absurda produzida
por suas usinas. Para isso, contratou uma empresa especializada em ruídos, que
deverá instalar poderosos filtros. Tendo nos sido inclusive apresentado o
contrato estabelecido com essa empresa;
• O Fórum aguardará os
resultados;
• O Fórum solicitou
formalmente à CPRH que fiscalizasse o nível de ruído produzido e sua propagação por longas distâncias, em conformidade com as normas técnicas
vigentes.
A questão mais grave é que, mesmo tratando-se de um grande complexo de produção termelétrico cuja matriz são combustíveis fósseis, não
houve exigência por parte da CPRH de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA)
compatível com a criticidade do projeto; criticidade elevada não só pela
potência das geradoras mas principalmente pela sua instalação em área de
proteção ambiental e proteção de mananciais. A CPRH se valeu de uma
resolução do CONAMA, resolução 279/2001, onde estabelece que para termelétricas
“com pequeno potencial de impacto ambiental” o EIA pode ser substituído por um
Relatório Ambiental Simplificado (RAS). Quando o mesmo CONAMA através das
resoluções 001/86 e 006/87 – vigentes - determina que, para os empreendimentos
elétricos superiores a 10 MW, é indispensável a realização do EIA. Ora, estamos
tratando de 436 MW de geração!
O Fórum solicitou os respectivos RAS ao CPRH e aguarda
ser atendido. Só então poderemos entender qual foi o critério de reconhecimento
como de “pequeno potencial de impacto ambiental” um complexo termelétrico com
potência de geração de 436 MW.
O engenheiro esclareceu que além das duas usinas já
citadas e que operaram no período compreendido de 27 de outubro de 2012 até
abril de 2013, uma outra vizinha (do Grupo MULTINER), e já
construída, deverá se associar ao complexo em janeiro de 2014, praticamente
duplicando a potência gerada no complexo termelétrico da APA Aldeia Beberibe.
Com relação à questão do licenciamento, a Dra. Joice, da CPRH, esclareceu que o entendimento jurídico daquele órgão foi de que a
resolução 279/2001 era aplicável ao empreendimento. Informou também
que, após denúncia do Fórum, a CPRH esteve presente no complexo de
termelétricas para aferir o problema do ruído, mas que a operação das unidades
já havia sido suspensa; portanto, retornará assim que forem reativadas.
O
engenheiro observou que as Licenças de Operação das Termelétricas da EPESA
estão vencidas desde agosto e argumentou que elas só deveriam ser renovadas quando
solucionadas as irregularidades apontadas e facilmente evidenciadas, como é o
caso do ruído.
O engenheiro nos revelou ainda uma outra irregularidade
que se traduz em mais uma ameaça. No local que está sendo construída a UTE
Pernambuco III (200 MW) está anunciado também que está em obras a TERMOPOWER V.
Ocorre que esse empreendimento teve sua autorização revogada pela ANEEL,
conforme demonstrado através de documentos. A TERMOPOWER V recebeu licença de
Instalação pela CPRH, mas o orgão garante que não liberará a Licençca de
Operação (LO).
Por sua vez, o professor Heitor Scalambrini proferiu uma
apresentação sobre os “Impactos de termoelétricas com derivados de petróleo”
discorrendo inicialmente de forma bastante didática e pedagógica
sobre a política de geração de energia no país, nossa matriz energética e o
processo de produção termelétrico a partir do óleo diesel. Com base
na Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico – FISPQ para
o diesel e óleo combustível, divulgado pela BR Distribuidora
(Petrobras), o professor registrou que a queima de derivados de
petróleo (óleo combustível, diesel) emite uma quantidade importante de
gases:
- Dióxido de enxofre (SO2) - responsável pela chuva ácida
- Óxidos de nitrogênio (NOx) - responsável pela chuva ácida
- Sulfeto de hidrogênio (H2S)
- Enxofre
- Monóxido e dióxido de carbono (CO e CO2)
- Hidrocarbonetos
- Amônia (NH3)
- Cloretos e cloros (HCl e HCL2)
- Fluoretos (F2, HF)
- Nevoas ácidas
- Mercúrio (Hg) e metais pesados)
- Particulados, causador de problemas respiratórios,
mostrando que esta fonte energética afeta significativamente a saúde da
população do entorno das usinas.
O FISPQ, com relação aos efeitos ambientais, informa que o
produto pode apresentar perigo para o meio ambiente em casos de grandes
derramamentos, das emissões de gases de efeito estufa, e de gases que provocam
a chuva ácida.
A partir das informações de potência gerada
e consumo de óleo diesel que informamos, Scalambrini realizou os cálculos de emissão de CO2
produzido apenas pelas duas unidades no período em que operaram:
Com base na Agência Internacional de Energia, o fator de
conversão do oleo diesel é 3,15 tCO2/tep (tonelada equivalente de petróleo).
Como 1m3 diesel é igual a 0,98 tep, temos que as emissões de CO2 são:
- 4.600 tCO2/dia
- 138.900 tCO2/mês
- 1.688.890 tCO2/ano
Ou seja, no período de funcionamento ininterrupto, entre 27 de outubro de 2012 a abril de 2013 (6 meses), as usinas emitiram, aproximadamente, 833.400 toneladas de CO2.
O professor ainda discorreu sobre a Lei Nº 9.860, que
trata das áreas de proteção dos mananciais, e da responsabilidade da CPRH em
seu cumprimento. Também discorreu sobre as resoluções do CONAMA e do
equívoco em dispensar o EIA RIMA no empreendimento . O professor foi enfático
em criticar a atuação da CPRH em nosso estado, embora reconhecendo que o órgão possui em seus quadros técnicos de excelente qualificação. Entende que a CPRH precisa ser reinventada. E conclui:
“Não existe uma fonte de energia que só tenha vantagens.
Não há energia sem controvérsia, mas a termelétrica a combustíveis fósseis, pelo
poder poluente, não deve ser utilizada para produzir eletricidade,
particularmente em nosso país, onde existem tantas outras opções.
A opção termoelétrica para geração de energia elétrica não
permite resolver os atuais problemas energéticos, e virá contribuir com
outros problemas. O Brasil é um país bem ensolarado, possui muito água e
fácil acesso ao mar, apresenta fortes ventos e grandes áreas agrícolas para
produção de biomassa, e pode utilizar tudo isso para seu desenvolvimento e
melhorar a qualidade de vida de sua população com um meio ambiente saudável e
renovável".
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