(Por Fernando Wucherpfennig,
Consultor Ambiental e membro do Fórum)
Parece
incrível, mas é fato. O lixo está presente em quase todos os lugares aqui na
Aldeia onde moramos (nossa casa). Próximo a condomínios de luxo, granjas,
casas, comércio, restaurantes, dentro e fora das escolas, rios... A metralha
segue o mesmo caminho Um assombro, em pleno século XXI. Ninguém nota, ninguém
se incomoda. Parece que faz parte da nossa paisagem.
A
Prefeitura já não dá mais conta de arrastar tudo para o escandaloso lixão. Os
restos ficam espalhados pelo nosso território, enfeiando, fedendo, queimando e
contaminando o ambiente (a fumaça que sai é pretíssima, altamente tóxica).
O
que fazer se ninguém liga, ninguém se incomoda? Acho que somente uma campanha
muito forte poderia equacionar todo esse escândalo. Afinal, moramos numa área
de proteção ambiental, onde se localiza um grande manancial da Região
Metropolitana do Recife! Nossa mata representa o maior fragmento de Mata
Atlântica ao norte do Rio São Francisco, o que não é pouco, levando-se em conta
o que resta dessa mata no Brasil!
O
primeiro passo é o mais básico: ensinar a separar o lixo em todas as escolas.
Isto é perfeitamente possível, se colocarmos o tema da educação no centro das
nossas discussões sobre o futuro de Aldeia. É só um pouco mais de boa vontade
dos governantes.
O
Fórum Socioambiental de Aldeia tem levado às escolas da região uma proposta
inovadora de educação ambiental, iniciando-se a alfabetização ecológica no
lugar certo. Não sabemos a razão pela qual nenhuma escola (pública ou privada)
se interessou até hoje em levar a proposta adiante, assim como também não houve
até agora apoio da Prefeitura de Camaragibe.
A
proposta do Fórum está completamente inserida na contemporaneidade:
transparência, participação, empoderamento das escolas pela comunidade e
protagonismo dos alunos. Incorpora também experiências exitosas em todo o
mundo. Além disto, o Fórum realizou seminários sobre educação ambiental,
trazendo especialistas de outros Estados, como foi o caso do prof. Marcos Sorrentino,
da USP, um dos maiores especialistas em educação ambiental, para debater o
assunto com toda a nossa comunidade. No entanto, ainda não pudemos ver uma
repercussão concreta desses seminários.
Houve
também inúmeras tentativas de envolver a novíssima Secretaria Estadual de Meio
Ambiente e Sustentabilidade (Semas) num projeto que englobasse todas as escolas
da APA Aldeia-Beberibe, focando a educação ambiental, o que representa, no
mínimo, uma contradição, já que a implantação da APA é questão de honra, prioritária
e emblemática para a política ambiental do Governo do Estado, e só será
sustentável com a participação consciente dos seus moradores.
O
mesmo foi feito com a CPRH, hoje denominada Agência Ambiental de Pernambuco,
que ostenta um setor voltado para a educação ambiental, com muita tradição e
dedicação, desde a sua fundação. Alegando falta de estrutura do órgão, não
obtivemos ainda o apoio perseguido, apenas simpatias.
O
que deveremos fazer, então?
Acho
que os condomínios de Aldeia poderiam fazer a sua parte, que seria o grande
referencial, a lição básica de casa, separando o lixo e reciclando, através da
compostagem do lixo de jardim. Lembrando que os condomínios possuem boa
estrutura de gestão, pessoas de bom nível e bons jardineiros, como também têm,
em geral, uma boa receita. Os condôminos poderiam exigir uma melhora no
tratamento do lixo.
A
Prefeitura poderia orientar esses procedimentos e dar um prazo para implantação
do serviço de reciclagem, deixando de recolher o lixo dos jardins, como faz hoje,
o que é um absurdo, pois estão jogando fora e desperdiçando o húmus da terra! E
pagando caro por isso. Granjas, sítios, casas, fazendas, empresas e escolas
seguiriam o mesmo caminho.
A
Prefeitura ficaria mais aliviada sem esse serviço de recolher o lixo dos
jardins, e as pessoas seriam informadas sobre como é simples sua reciclagem.
Simples e importantíssimo para a vida, para o meio ambienta, para a
biodiversidade. Livre dessa tarefa, nossa Prefeitura poderia dar mais atenção
às áreas mais pobres, atualmente atoladas no lixo.
Nesse
contexto, fica viável a implantação de uma central de compostagem em Aldeia. O
viveiro florestal da Prefeitura de Camaragibe (atualmente abandonado) poderia
ser reativado, com distribuição de mudas de todas as espécies e também húmus.
Aí, sim, seria o início do reflorestamento de Aldeia.
Coloquemos
um ponto final no fogo dos lixões espalhados por toda Aldeia! Acordemos,
façamos nossa lição de casa, mãos na massa! Envolvamo-nos nesta batalha,
ajudando a combater as duas maiores ignorâncias brasileiras: a ignorância
ambiental e a ignorância política!
A
hora é agora!