terça-feira, 26 de março de 2013

O Escândalo Insustentável do Lixo em Aldeia


(Por Fernando Wucherpfennig, 
Consultor Ambiental e membro do Fórum)

Parece incrível, mas é fato. O lixo está presente em quase todos os lugares aqui na Aldeia onde moramos (nossa casa). Próximo a condomínios de luxo, granjas, casas, comércio, restaurantes, dentro e fora das escolas, rios... A metralha segue o mesmo caminho Um assombro, em pleno século XXI. Ninguém nota, ninguém se incomoda. Parece que faz parte da nossa paisagem.

A Prefeitura já não dá mais conta de arrastar tudo para o escandaloso lixão. Os restos ficam espalhados pelo nosso território, enfeiando, fedendo, queimando e contaminando o ambiente (a fumaça que sai é pretíssima, altamente tóxica).

O que fazer se ninguém liga, ninguém se incomoda? Acho que somente uma campanha muito forte poderia equacionar todo esse escândalo. Afinal, moramos numa área de proteção ambiental, onde se localiza um grande manancial da Região Metropolitana do Recife! Nossa mata representa o maior fragmento de Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco, o que não é pouco, levando-se em conta o que resta dessa mata no Brasil!

O primeiro passo é o mais básico: ensinar a separar o lixo em todas as escolas. Isto é perfeitamente possível, se colocarmos o tema da educação no centro das nossas discussões sobre o futuro de Aldeia. É só um pouco mais de boa vontade dos governantes.

O Fórum Socioambiental de Aldeia tem levado às escolas da região uma proposta inovadora de educação ambiental, iniciando-se a alfabetização ecológica no lugar certo. Não sabemos a razão pela qual nenhuma escola (pública ou privada) se interessou até hoje em levar a proposta adiante, assim como também não houve até agora apoio da Prefeitura de Camaragibe.

A proposta do Fórum está completamente inserida na contemporaneidade: transparência, participação, empoderamento das escolas pela comunidade e protagonismo dos alunos. Incorpora também experiências exitosas em todo o mundo. Além disto, o Fórum realizou seminários sobre educação ambiental, trazendo especialistas de outros Estados, como foi o caso do prof. Marcos Sorrentino, da USP, um dos maiores especialistas em educação ambiental, para debater o assunto com toda a nossa comunidade. No entanto, ainda não pudemos ver uma repercussão concreta desses seminários.

Houve também inúmeras tentativas de envolver a novíssima Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) num projeto que englobasse todas as escolas da APA Aldeia-Beberibe, focando a educação ambiental, o que representa, no mínimo, uma contradição, já que a implantação da APA é questão de honra, prioritária e emblemática para a política ambiental do Governo do Estado, e só será sustentável com a participação consciente dos seus moradores.

O mesmo foi feito com a CPRH, hoje denominada Agência Ambiental de Pernambuco, que ostenta um setor voltado para a educação ambiental, com muita tradição e dedicação, desde a sua fundação. Alegando falta de estrutura do órgão, não obtivemos ainda o apoio perseguido, apenas simpatias.

O que deveremos fazer, então?

Acho que os condomínios de Aldeia poderiam fazer a sua parte, que seria o grande referencial, a lição básica de casa, separando o lixo e reciclando, através da compostagem do lixo de jardim. Lembrando que os condomínios possuem boa estrutura de gestão, pessoas de bom nível e bons jardineiros, como também têm, em geral, uma boa receita. Os condôminos poderiam exigir uma melhora no tratamento do lixo.

A Prefeitura poderia orientar esses procedimentos e dar um prazo para implantação do serviço de reciclagem, deixando de recolher o lixo dos jardins, como faz hoje, o que é um absurdo, pois estão jogando fora e desperdiçando o húmus da terra! E pagando caro por isso. Granjas, sítios, casas, fazendas, empresas e escolas seguiriam o mesmo caminho.

A Prefeitura ficaria mais aliviada sem esse serviço de recolher o lixo dos jardins, e as pessoas seriam informadas sobre como é simples sua reciclagem. Simples e importantíssimo para a vida, para o meio ambienta, para a biodiversidade. Livre dessa tarefa, nossa Prefeitura poderia dar mais atenção às áreas mais pobres, atualmente atoladas no lixo.

Nesse contexto, fica viável a implantação de uma central de compostagem em Aldeia. O viveiro florestal da Prefeitura de Camaragibe (atualmente abandonado) poderia ser reativado, com distribuição de mudas de todas as espécies e também húmus. Aí, sim, seria o início do reflorestamento de Aldeia.

Coloquemos um ponto final no fogo dos lixões espalhados por toda Aldeia! Acordemos, façamos nossa lição de casa, mãos na massa! Envolvamo-nos nesta batalha, ajudando a combater as duas maiores ignorâncias brasileiras: a ignorância ambiental e a ignorância política!

A hora é agora!

2 comentários:

  1. O assunto é polêmico, e digno de muita atenção. O que mais indigna é ver que falta boa vontade da maior parte da população que segue ignorando o lixo que é de todos. Lixo não deixa de ser problema quando sai de nossas casas ou condomínios, o lixo que saiu de nossas vistas não deixa simplesmente de existir, independente do destino, é no nosso planeta que ele estará. São constantes as matérias enfatizando a geração de renda através do lixo. A verdade é que existe uma falsa sensação de que é menos trabalhoso simplesmente "tirar" o lixo do alcance da visão, a não ser para aqueles que pretendam mudar de planeta, por isso não se preocupam em ocupar a terra com lixo. Não são poucos os exemplos de comunidades que formaram cooperativas que tiram do lixo sustento para muitas famílias, temos em Recife exemplos, entre eles a AMAPE, basta vontade, e como dito acima " A hora é agora!"

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  2. O Fórum deveria levar isso ao prefeito.

    Ações assim - limitadas, objetivas - quebram um longo período de omissão, que vem destruindo o brio da população de Aldeia.

    Marcos Sampaio

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